sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Apresentação do capítulo 09 do A Força dos Modelos Mentais - Aproximando Desconexões Adaptativas

Por:
Daniel Soares
Deividson Martins
Eduardo Alex
Frederick Renoir
Ian de Sousa
Melyssa Almeida


Prisão de palavras

As nuvens carregadas que encobriam a lua, deixavam o serviço de iluminar o pátio da
penitenciária somente com as chamas que ainda ardiam nas suas celas e escritórios. Os
detentos finalmente haviam sido controlados. Lá estavam eles, nus, sentados no chão gelado
do pátio á céu aberto. A noite e o frio pareciam não os incomodar, muito menos as labaredas
tremulantes que consumiam o prédio que os cercava. Um som apenas os incomodava. Eram
passadas pesadas e lentas que demonstravam muito bem o caráter indiferente de quem as
dava.
“Boa noite, seus vermes.
A voz complacente do capitão Nunes não enganava mais ninguém. Não no presídio,
pelo menos. Todos ali sabiam muito bem do que aquele velho homem de feições brutas era
capaz. A ordem entre os presos era jamais desobedecê-lo e, se o fosse fazer, que tivesse o
cuidado de não deixá-lo saber.
“Quer dizer então que vocês queriam tomar o meu presídio? Esse é nova, tenho que
admitir. Alguns de vocês tentaram fugir por escavações, outros tentaram subornar guardas,
mas uma rebelião realmente foi uma surpresa.”
E o capitão estava certo. Todos os presos o temiam. Qualquer insurreição era punida
por ele sem qualquer tipo de dó. Mas o que ele poderia fazer contra todo um presídio? Uma
rebelião parecia uma boa idéia. Pura ilusão.
“Em todos esses meus anos como policial e como diretor desse buraco em que vocês
estão presos eu nunca vi um pessoal tão mais desconexo do que vocês. Mas olhem pra isso:
todos juntinhos tentando escapar do meu presídio. Isso me lembra uma história da época em
que sai da academia. Dois sujeitos totalmente desajustados, como vocês, conseguiram se
entender e encontrar uma maneira de serem pessoas melhores apenas ouvindo um ao outro.”

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Augusto sentia a cabeça girar. A visão estava turva e ele não conseguia enxergar onde
estava. Se lembrava muito mal do que havia acontecido antes, mas sabia que coisa boa não
era.
“Argh... Onde... O que? Onde é que... Onde é que eu estou?”
“De acordo com a latitude e temperatura do ambiente, meu chapa, nós estamos no
xilindró.” – respondeu o homem desarrumado ao seu lado.
“O que? Onde? O que diabos é “xilindró”? – perguntou Augusto ainda atordoado.
“Xilindró, meu chapa! Xadrez, jaula, cadeia!”
“Espera aí. Mas o que... Que droga de cheiro é esse? O que é você, um cachaceiro?”
“Cachaceiro é quem faz cachaça. Eu só bebo. Você se acha coisa melhor?”
“Fique o senhor sabendo que eu sou um grande empresário do ramo publicitário!”
“É mesmo, senhor empresário? E como Vossa Majestade veio parar aqui?”
A memória de Augusto era um verdadeiro caleidoscópio. Seria muito se ele lembrasse
de metade do que havia acontecido antes dele aparecer algemado á uma bêbado. Ele teve que
forçar muito a mente. Muito. A dor chateava, mas com um pouco de esforço ele conseguiu se
lembrar.

Flashback - Prisão do executivo from Freddie Renoir on Vimeo.

Luís, o bêbado algemado á Augusto, ria escancaradamente. Ele não era do tipo de
pessoa que se entristecia com facilidade. Era um genuíno otimista. Chame de “sonhador” ou
de “relaxado” se quiser.
“Foi assim que você foi preso? Você é completamente louco!” E voltava às suas
gargalhadas descontroladas.
“Ah, mas é claro! E você, com certeza, veio pra cá por um motivo bem melhor, não é?”

“Eu, Sua Majestade...” – começou ele secando as lágrimas dos olhos. – “Eu, pelo
menos, me diverti antes de acabar acorrentado á você.”

Flashback - Prisão do bebum from Freddie Renoir on Vimeo.

Porque tinham que tê-lo algemado àquele bêbado que, além de bêbado, parecia ser
totalmente desconectado da realidade? Ou dessa realidade, pelo menos. Pior do que estar
preso era estar preso ao louco que era Luís. Quem ele pensava que era pra chamar Augusto de
louco? O cara havia agredido um policial e chamava isso de “diversão”.
“Meu Deus! Você é mesmo um... Um... Cachaceiro!” – disse Augusto totalmente
transtornado.
“E você é um mauriçonho!” – respondeu Luís.

O capitão Nunes havia interrompido a história. O que ele queria não era simplesmente
entreter os presos, ele queria ensinar algo á eles. Isso era claro. Ninguém ali era burro. Não a
maioria.
“Como eu disse antes, senhoritas, esses dois eram completamente desajustados. Eles
tinham pontos de vista completamente opostos. Chamamos isso de desconexões adaptativas.
Sim, moças, isso tem nome sim. Apesar do desentendimento exagerado, eles nem sabiam que
tinham dado o primeiro passo para unirem seus modos de vida: reconhecer suas diferenças.”

“O correto é mauricinho.” – disse Augusto puxando assunto.
“O que?” – perguntou Luís sem acreditar no que ouvia.
“Você disse mauriçonho. O correto mauricinho. MAU – RI – CI –NHO.”
“Eu não acredito nisso. Você tá preso, meu chapa, e ainda consegue se preocupar com
erros de português. É um mauriçonho mesmo!”
Era inútil. Não importava o quanto tentassem, era simplesmente inútil.
“Eu queria mesmo é tomar uma branquinha agora.”
“Agora sou eu quem não acredita! Você tá aqui justamente por causa da cachaça e
continua pensando em beber? Você é inacreditável!”
“Eu sou? Quem e você pra me julgar, meu chapa? Você é que não sabe aproveitar a
vida!”
“E você é um vagabundo que não faz nada pra ninguém!”
“Ah, mas é claro! Eu devo achar que você é felicíssimo vivendo nesse marasmo, não é?”
O tal do calor da discussão havia sumido de repente. De algum modo, aquela pergunta
tinha deixado Augusto abatido. Talvez o lembrasse de algo nem tão digno de pompa assim.
Talvez o remetesse á algum momento ruim de sua vida. Isso dava á Luís a sensação
de “finalmente um golpe decente”. Era um ótimo sentimento pra ele.
“Eu... Bem...” – gaguejou Augusto tentando se lembrar de algo que valesse á pena
contar – “Não. Não como eu achei que seria. E você? Você é feliz do jeito que vive?”
Luís jamais poderia imaginar que a bola retornaria pra ele. A princípio quis logo deixar
Augusto sem argumentos, mas a sinceridade dele não o deixou. Luís pensou bem e viu que não
era bem a pessoa certa pra julgar Augusto pela sua infelicidade.
“Eu... Olha, eu queria poder dizer que sou. De repente, se eu me preocupasse um
pouco mais com minha vida e com as pessoas que me cercam as coisas poderiam caminhar
melhor pra mim.”
“É claro. O mesmo serve pra mim. Talvez se eu relaxasse um pouco mais e
aproveitasse melhor o tempo que tenho com minha família, eu poderia ser também um marido e um pai de sucesso.”
A solução era tão clara quanto o problema que os dois enfrentavam. Aliás, os dois se
olhavam vendo as soluções pros seus problemas um no outro. Como não haviam pensado
nisso antes?
“Eu vou virar um cachaceiro!” – disse Augusto levantando-se entusiasmado.
“E eu vou virar um empresário do ramo publicitário!” – disse Luís da mesma forma.
A idéia parecia genial á primeira vista, mas antes mesmo que pudessem tomar
qualquer medida, algo os manteve ali. E não eram as algemas.

Flashback - Executivo bêbado from Freddie Renoir on Vimeo.

Flashback - Bebum no escritório from Freddie Renoir on Vimeo.

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Mas que raio de história era essa que o capitão contava? O que, afinal de contas, ele
queria ensinar àqueles condenados que, como se não bastasse estarem condenados, ainda
eram obrigados a ouvir aquela droga de história sem sentido?
“Agora prestem atenção nessa informação, meninas: não pensem vocês que é fácil
chegar até um novo tipo de pensamento a partir dos pensamentos de outra pessoa. Não, não.
Há muitos obstáculos no caminho. Tentar mudar á força o pensamento do outro, por exemplo,
é uma péssima maneira de se começar. Também fica bem difícil se um dos dois interessados
não se esforçar para mudar. Oura coisa também é se a mudança de cada um ocorrer de forma
desigual.”
Meu Deus, aquilo agora tinha virado uma aula de psicologia? A maioria dos detentos
não tinha terminado nem o ensino fundamental. Onde o capitão estava com a cabeça? Por
acaso ele estava experimentando uma nova forma de punição? Antes mandasse a todos para a
solitária. Aliás, não parecia uma má idéia. Mesmo.
“O que não dava certo entre esses dois, senhoras, é que eles tentavam mudar muita
coisa de forma muito radical. Existem algumas coisas no seu modo de vida que precisam ser
mantidas mesmo que a intenção seja mudar sua forma de pensar. Essa nova atitude precisa
ser reforçada dia após dia, em pequenas mudanças que, com o tempo, geram algo melhorado
encontrado a partir de um consenso entre as antigas e as novas idéias.”
Por mais inacreditável que parecesse, o capitão Nunes estava realmente adorando
aquele momento. E, pra ele, aquilo não era uma forma de castigo. A real intenção dele,
acredite, era ensinar algo aos detentos. Talvez a idade finalmente tivesse chegado para ele.
Infelizmente, nenhum dos presos estava num bom momento de ouvinte.
“Pelo amor do Senhor Jesus!” – interrompeu um detento levantando-se do meio do
pátio escuro – “Me joga na solitária, capitão! Por Favor! Por favor! Por favor!”
“A solitária não está disponível no momento, seu estafermo! Não prefere a nossa suíte
presidencial ou a cobertura? Ah, não, me perdoe. No momento ambas as acomodações estão
em chamas! Trate de sentar esse seu rabo aí e ouvir o que tenho a dizer! A não ser que queira
fazer uma inspeção na sua cela para checar se ela está suficientemente quentinha.”
No dia seguinte á rebelião, todos os presos tiveram que ser transferidos para uma
outra penitenciária enquanto aquela, que abrigava exatamente oitocentos homens, passava
pelo processo de reconstrução. Estranhamente, ao chegarem em seu destino, apenas 799
homens foram contados.
“Como eu dizia antes de ser rudemente interrompido, esses dois vão precisar passar
por uma série de coisas antes de conseguirem, finalmente, chegar à um consenso. Eles
estavam em crise e isso, com certeza, era exatamente do que eles precisavam para
aproximarem suas maneiras diferentes de pensar e encontrar novas soluções.”

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“Olha, cara... Hoje eu vejo.” – começou Augusto com um tom arrependido – “Eu
deveria ter prestado mais atenção no que as pessoas que me amavam diziam. Minha mulher, digo, minha ex-mulher e meu falecido pai sempre me alertavam pra não acabar dedicando
mais tempo ao trabalho do que á eles.”
“Você não é o único, meu chapa. Também ouvi muita coisa assim.” – disse Luís.
“É mesmo? E com o que exatamente você trabalhava?”
“Trabalho? Não, isso não é pra mim. Eu falava da minha família. Minha mãe sempre
tentava me avisar: ‘Pára de mijar na geladeira! Pára de vomitar em mim! Vai arranjar alguma
coisa pra fazer nessa vida, seu imprestável!’”
Ele não acreditava que chegara lá. Augusto pensava que jamais poderia chegar aonde
se encontrava no momento: o fundo do poço. De lá ele mantinha sempre a maior distância
possível, mas pra que lutar agora? Como dizem por aí, não adianta chorar sobre o leite
derramado. Afinal, ele já estava encolhido lá no fundo. Deixe que o bêbado fale as asneiras
dele.
Apesar de a luz da esperança ser extremamente fraca no fundo daquele poço, uma das
qualidades de Luís, seu otimismo desmedido, foi o que deu á Augusto a percepção para sentir
o calor daquele pequeno feixe de luz de esperança que ainda conseguia chegar ao fundo.
“Mas sabe que tem um lado bom nessa história toda, meu chapa?” – começou Luís.
“Comida de graça?” – perguntou Augusto sem mais nenhuma perspectiva.
“Não! Não... Essa é uma oportunidade única que a gente tem pra sermos satisfeitos
com nossas próprias vidas.”
“Hein? Não entendi.”
“Você não percebe? Desde sempre eu bebo pra não ter que encarar a vida como ela é
de verdade, mas, no fundo, eu sempre tive vontade de batalhar por aquilo que eu quero e
vencer, mesmo que fosse eu mesmo. E agora, eu vejo em você um exemplo de vitórias
profissionais.”
“Acho que te compreendo. Sabe, eu também vejo isso agora que você mencionou. A
minha vida toda eu guardei várias recomendações de sucesso, mas nunca fui plenamente feliz
seguindo essas tais recomendações. Eles diziam: ‘Trabalho árduo é o preço a pagar para se ter
sucesso’, ‘Se você quer nadar entre tubarões é melhor que seja um deles.’, ‘Tempo é dinheiro’
e por aí vai. Agora, num sujeito simples como você eu vejo o que realmente faltava em mim.”
“E sabe do que mais? O custo pra termos a nossa satisfação é muito baixo. Só do que a
gente precisa é manter contato e aprender um com o outro.”
“Sim! É claro! Assim que conseguirmos sair daqui, podemos sempre almoçar em um
restaurante super bem freqüentado em frente ao meu escritório.”
“Restaurante? Faça-me o favor... Tem que ser num lugarzinho mais animado com
mulher e...”
“Sem bebida alcoólica!”
“Tá... Tá, pode ser.”

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O capitão falava tanto em “desajuste”, “desconexão” e em “novas atitudes” que dava
a entender que a história terminaria quando os tais dois caras se acertassem. Os detentos já
catucavam uns aos outros, acordando os que pegaram no sono enquanto o capitão falava.
“E sabe o que aconteceu depois disso, senhoritas? O advogado do empresário ligou
pra ele avisando que levaria dinheiro para pagar a fiança. Isso é, uma ‘dupla fiança’, se é que
isso existe, pois deveria liberar tanto á ele quanto ao seu novo amigo.”
Não havia como saber se o capitão estava aguardando aplausos ou algo assim. Ele
ficou lá, parado, com cara de paisagem. As nuvens pareciam ainda mais carregadas. Os
relâmpagos já clareavam o céu e alguns trovões já eram sentidos na terra. Permaneceu assim
por uns minutos, esperando sabe-se lá o que. Era a resposta que os presos precisavam para
chegar à conclusão definitiva de que a idade realmente havia chegado para o capitão Nunes.
“É isso senhoras. Pensem na história desses dois coitados tirando algum tipo de aplicação pra vocês. Vocês terão tempo de sobra para pensarem nisso aqui no frio, na chuva.”

Era inacreditável. Os detentos tentavam acreditar, mas era, deliberadamente,
inacreditável.

FIM.

Fernanda Mathias - Fórmula

F+L+O+A+F=B


Para fazer um bom B, é indispensável utilizar F, um pouco de L e algum O como base. O outro F aumenta a base e o A dá um toque especial.  

Grupo da Marcele - Fórmula


Evelyn de Lima - Diagrama de Venn / Linha do Tempo



Emanuelle Lima - Linha do Tempo


Raphael Sanchez - Linha do Tempo


Pâmela Silva - Diagrama de Venn / Linha do Tempo



Clariane Pires - Diagrama de Venn / Linha do Tempo




Aline Andrade - Diagrama de Venn / Linha do Tempo